sábado, 31 de agosto de 2013

Parte III - Lira III

Tu não verás, Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho, e a rica, terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
Ou da minada serra.

Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.

Não verás derrubar os virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda novas;
Servir de adubo à terra a fértil cinza;
Lançar os grãos nas covas.

Não verás enrolar negros pacotes
Das secas folhas do cheiroso fumo;
Nem espremer entre as dentadas rodas
Da doce cana o sumo.

Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grande livros,
E decidir os pleitos.

Enquanto revolver os meus consultos.
Tu me farás gostosa companhia,
Lendo os fatos da sábia mestra história,
E os cantos da poesia.

Lerás em alta voz a imagem bela,
Eu vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.

Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
Que tens quem leve à mais remota idade
A tua formosura.

Interpretação
Nessa lira é possível notar o contrate entre dois mundo: o mundo interior e exterior do eu lírico.Nas primeiras estrofes predomina o trabalho dos escravos em algumas atividades econômicas da região como: a exploração aurífera através da mineração (“minada serra”- montanha escavada pela busca do ouro)  e da garimpagem (“granetes de oiro/No fundo da bateia”) presentes na 1ª e 2ª estrofe; a agricultura ( o trabalho braçal no campo em Lançar os grãos nas covas”), na terceira estrofe e o trabalho pré-industrial  na produção do fumo e do açúcar (“ enrolar negros pacotes / espremer entre as dentadas rodas”, na 4ª estrofe.
Nas outras ( começadas  por “verás”) predomina o elogio da vida equilibrada e a atividade amena do letrado,do intelectual na presença da “Pastora Marília”.A antecipação desse convívio benfazejo é indicado pela exploração de verbos no futuro ,presentes em todo o poema.O poeta faz referência , nesse sentido, ao trabalho na magistratura  e a vida tranquila que levaria no lar, podendo se dedicar á cultura, em concomitância com as suas obrigações.A felicidade conjugal está evidenciada na “gostosa companhia, ou seja, o contentamento e o prazer que a amada levaria ao eu lírico , enquanto este se dedicasse ao seu ofício.
Ao meu ver o eu lírico sonha em ter uma vida tradicional com Marília, a lira demostra que Dirceu está num momento futurista, com foco em sua amada.
Como já relatado  a lira é uma das mais  belas, ajuda o leitor a tirar conclusões sobre quem era Dirceu, notamos que na  terceira parte a figura da pastora não mais se encontra presente com tanta intensidade(são dedicadas não apenas a Marília, mas também a outras pastoras).

Característica do Arcadismo
Uma característica de estilo presente é o largo uso do adjetivo, que na função sintática de adjunto adnominal, ocorre quase sempre anteposto ano nome, como em “rica terra”, “hábil negro” e “cansado processo”.Trata-se de um caso de leve inversão ou anástrofe ,muito frequente nas poesias árcade e clássica.

Contexto Histórico
Na terceira parte, após o degredo, fala de amores, desenganos e traições.
Dirceu está passando por um período de reflexões  intensas e está distante de todo o seu povo.
 
Glossário
Cativos:escravos.
Minada:escavada.
Esmeril:resíduo de minerais pesados.
Granetes:pequenos grãos.
Bateia:gamela de madeira usada para a lavagem de areia ou cascalho que contenha minerais preciosos.
Capoeiras:mato nascido nas área em que se faz a derrubada de matas virgens.
Pleito:expressão jurídica para designar litígio,conflito.
Fastos:registros públicos de fatos ou obras memoráveis.

Fonte: http://nelsonsouzza.blogspot.com.br/2010/05/marilia-de-dirceu-parte-iii-lira-iii.html

Diego Santos,09,1ºF.

2 comentários:

  1. Bom, não tenho muito o que falar, pois meu colega já falou tudo que eu poderia falar, mas queria acrescentar uma coisinha, nessa lira, vemos uma grande diferença no que se refere ao sentimento de Tomás, parece que tudo mudou, ele não exalta Marília da mesma forma que antes.

    Número 29/1F

    ResponderExcluir
  2. Discordo do meu colega Samuel. Tomás exalta sim Marília, apesar de que implicitamente. Quando, no final, diz que não importa se exista outra tão, ou mais bela que Marília, jamais alguma levará tal beleza até seu envelhecimento. Para mim, a lira fala sobre a convivência que teriam, Dirceu e Marília, pois no poema, Dirceu expressa que ela não o verá no trabalho árduo, mas sim, o verá lendo e desfrutando de sua companhia.
    Wanessa Azevedo, 36, 1°F.

    ResponderExcluir