Parte III - Lira III
Tu não verás, Marília, cem
cativos
Tirarem o cascalho, e a
rica, terra,
Ou dos cercos dos rios
caudalosos,
Ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil
negro
Do pesado esmeril a grossa
areia,
E já brilharem os granetes
de ouro
No fundo da bateia.
Não verás derrubar os
virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda
novas;
Servir de adubo à terra a
fértil cinza;
Lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negros
pacotes
Das secas folhas do cheiroso
fumo;
Nem espremer entre as
dentadas rodas
Da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa
mesa
Altos volumes de enredados
feitos;
Ver-me-ás folhear os grande
livros,
E decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus
consultos.
Tu me farás gostosa
companhia,
Lendo os fatos da sábia
mestra história,
E os cantos da poesia.
Lerás em alta voz a imagem
bela,
Eu vendo que lhe dás o justo
apreço,
Gostoso tornarei a ler de
novo
O cansado processo.
Se encontrares louvada uma
beleza,
Marília, não lhe invejes a
ventura,
Que tens quem leve à mais
remota idade
A tua formosura.
Interpretação
Nessa lira é possível notar
o contrate entre dois mundo: o mundo interior e exterior do eu lírico.Nas
primeiras estrofes predomina o trabalho dos escravos em algumas atividades econômicas
da região como: a exploração aurífera através da mineração (“minada serra”-
montanha escavada pela busca do ouro) e
da garimpagem (“granetes de oiro/No fundo da bateia”) presentes na 1ª e 2ª
estrofe; a agricultura ( o trabalho braçal no campo em Lançar os grãos nas
covas”), na terceira estrofe e o trabalho pré-industrial na produção do fumo e do açúcar (“ enrolar
negros pacotes / espremer entre as dentadas rodas”, na 4ª estrofe.
Nas outras ( começadas por “verás”) predomina o elogio da vida
equilibrada e a atividade amena do letrado,do intelectual na presença da “Pastora
Marília”.A antecipação desse convívio benfazejo é indicado pela exploração de
verbos no futuro ,presentes em todo o poema.O poeta faz referência , nesse
sentido, ao trabalho na magistratura e a
vida tranquila que levaria no lar, podendo se dedicar á cultura, em concomitância
com as suas obrigações.A felicidade conjugal está evidenciada na “gostosa
companhia, ou seja, o contentamento e o prazer que a amada levaria ao eu lírico
, enquanto este se dedicasse ao seu ofício.
Ao meu ver o eu lírico sonha
em ter uma vida tradicional com Marília, a lira demostra que Dirceu está num
momento futurista, com foco em sua amada.
Como já relatado a lira é uma das mais belas, ajuda o leitor a tirar conclusões sobre
quem era Dirceu, notamos que na terceira
parte a figura da pastora não mais se encontra presente com tanta
intensidade(são dedicadas não apenas a Marília, mas também a outras pastoras).
Característica do Arcadismo
Uma característica de estilo
presente é o largo uso do adjetivo, que na função sintática de adjunto
adnominal, ocorre quase sempre anteposto ano nome, como em “rica terra”, “hábil
negro” e “cansado processo”.Trata-se de um caso de leve inversão ou anástrofe
,muito frequente nas poesias árcade e clássica.
Contexto Histórico
Na terceira parte, após o
degredo, fala de amores, desenganos e traições.
Dirceu está passando por um
período de reflexões intensas e está
distante de todo o seu povo.
Glossário
Cativos:escravos.
Minada:escavada.
Esmeril:resíduo de minerais
pesados.
Granetes:pequenos grãos.
Bateia:gamela de madeira
usada para a lavagem de areia ou cascalho que contenha minerais preciosos.
Capoeiras:mato nascido nas
área em que se faz a derrubada de matas virgens.
Pleito:expressão jurídica
para designar litígio,conflito.
Fastos:registros públicos de
fatos ou obras memoráveis.
Fonte: http://nelsonsouzza.blogspot.com.br/2010/05/marilia-de-dirceu-parte-iii-lira-iii.html
Diego Santos,09,1ºF.
Bom, não tenho muito o que falar, pois meu colega já falou tudo que eu poderia falar, mas queria acrescentar uma coisinha, nessa lira, vemos uma grande diferença no que se refere ao sentimento de Tomás, parece que tudo mudou, ele não exalta Marília da mesma forma que antes.
ResponderExcluirNúmero 29/1F
Discordo do meu colega Samuel. Tomás exalta sim Marília, apesar de que implicitamente. Quando, no final, diz que não importa se exista outra tão, ou mais bela que Marília, jamais alguma levará tal beleza até seu envelhecimento. Para mim, a lira fala sobre a convivência que teriam, Dirceu e Marília, pois no poema, Dirceu expressa que ela não o verá no trabalho árduo, mas sim, o verá lendo e desfrutando de sua companhia.
ResponderExcluirWanessa Azevedo, 36, 1°F.