quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Lira  XII- Parte II


Ah! Marília, que tormento
Não tens de sentir saudosa!
Não podem ver os teus olhos
A campina deleitosa,
Nem a tua mesma aldeia,
Que tiranos não proponham
À inda inquieta idéia
Uma imagem de aflição.
Mandarás aos surdos Deuses
Novos suspiros em vão.

Quando levares, Marília,
Teu ledo rebanho ao prado,
Tu dirás: Aqui trazia
Dirceu também o seu gado.
Verás os sítios ditosos
Onde, Marília, te dava
Doces beijos amorosos
Nos dedos da branca mão.
Mandarás aos surdos Deuses
Novos suspiros em vão.

Quando à janela saíres,
Sem quereres, descuidada,
A minha pobre morada.
Tu dirás então contigo:
Ali Dirceu esperava
Para me levar consigo;
E ali sofreu a prisão.
Mandarás aos surdos Deuses
Novos suspiros em vão.

Quando vires igualmente
Do caro Glauceste a choça,
Onde alegre se juntavam
Os poucos da escolha nossa,
Pondo os olhos na varanda
Tu dirás de mágoa cheia:
Todo o congresso ali anda,
Só o meu amado não.
Mandarás aos surdos Deuses
Novos suspiros em vão.

Quando passar pela rua
O meu companheiro honrado,
Sem que me vejas com ele
Caminhar emparelhado,
Tu dirás: Não foi tirana
Somente comigo a sorte;
Também cortou desumana
A mais fiel união.
Mandarás aos surdos Deuses
Novos suspiros em vão.

Numa masmorra metido,
Eu não vejo imagens destas,
Imagens, que são por certo
A quem adora funestas.
Mas se existem separadas
Dos inchados, roxos olhos,
Estão, que é mais, retratadas
No fundo do coração.
Também mando aos surdos Deuses
Tristes suspiros em vão.

Interpretação:
Na lira vemos que o eu lírico está passando por um momento de sofrimento,sente saudades de sua amada, e mostra-nos como sua vida foi modificada totalmente após sua prisão.Na segunda parte do livro  é possível ver o quanto a vida de Dirceu mudou, só que o seu amor por Marília se manteve vivo mesmo com a distância, o  poeta não admite a ideia de que sua amada sofra ,porém  ele demonstra está numa fase reflexiva e de grande sofrimento por está longe de sua amada.
Características do arcadismo:
Pastoralismo: poetas simples e humildes;
 Exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza;
Tom confessional.
Contexto histórico:
A segunda parte do livro foi escrita quando Dirceu estava na prisão, portanto conseguimos identificar um maior sofrimento do eu lírico, o seu emocional estava mais fragilizado, assim percebemos que ele está passando por um momento de oscilações sentimentais.

Glossário:
Prado: campo coberto
Ditosos: Que tem boa sorte; venturoso, afortunado, feliz, felizardo.
Choça: Vais para a choça é o mesmo que dizer vais para a prisão .Isto na gíria militar.
Funestas: Pessoas tristes, com ideias fúnebres, carrancudas.

Diego Santos,09,1ºF.




4 comentários:

  1. A análise do Diego foi de fácil compreensão e esclarecedora.Concordo com a interpretação do aluno,pois a lira XII tem como tema as lembranças e saudades do eu lírico,suas lembranças são de quando ainda não estava preso.
    Ana vitória,03,1F

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Concordo com a interpretação do meu colega. A lira é de fácil entendimento e é realmente visível o sentimento de injúria e saudade da parte do eu lírico. Percebo também, que talvez ele possa estar com receio do futuro e do que as mudanças ocorridas na sua vida poderiam lhe proporcionar.
    Wanessa Azevedo, 36, 1°F.

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  4. Concordo com a interpretação e os comentários dos meus colegas. A lira relata sobre a saudades que tinha e de como se sentia sozinho, como se ninguém (no caso Marília) fosse capaz de escutar ele já que ele estava muito distante o autor também demonstra na lira o quanto refletia sobre o seu futuro.
    Ana Luísa, 02, 1°F.

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