Parte II- Lira II

Esprema a vil calúnia muito embora

Enter as mãos denegridas, e insolentes,

Os venenos das plantas,

E das bravas serpentes.

Chovam raios e raios, no meu rosto

Não hás de ver, Marília, o medo escrito:

O medo perturbador,

Que infunde o vil delito.

Podem muito, conheço, podem muito,

As fúrias infernais, que Pluto move;

Mas pode mais que todas

Um dedo só de Jove.

Este Deus converteu em flor mimosa,

A quem seu nome dera, a Narciso;

Fez de muitos os Astros,

Qu’inda no Céu diviso.

Ele pode livrar-me das injúrias

Do néscio, do atrevido ingrato povo;

Em nova flor mudar-me,

Mudar-me em Astro novo.

Porém se os justos Céus, por fins ocultos,

Em tão tirano mal me não socorrem;

Verás então, que os sábios,

Bem como vivem, morrem.

Eu tenho um coração maior que o mundo!

Tu, formosa Marília, bem o sabes:

Um coração..., e basta,

Onde tu mesma cabes.

Interpretação: 

Nessa lira ele mostra que não quer que Marília consiga perceber o medo que existe dentro dele, que os Deuses são capazes de fazer tudo, que tudo de ruim pode acontecer com ele, que podem em nova flor muda-lo ou em Astro novo, mas isso não vai mudar o coração que ele tem, um coração onde a própria Marília cabe.

Características do Arcadismo e da lira: 

Vemos o uso da paisagem campestre e da mitologia.

Contexto Histórico: 

Essa lira, foi feita quando Tomás estava preso, faz até sentido, já que ele diz na lira, que não importa o que aconteça o coração dele não vai mudar.

Glossário:

Infunde- Introduzir.
Pluto- Deus das riquezas.

Jove- Apelido para o Deus Júpiter.

Néscio- Sujeito ignorante, estúpido, incompetente, incoerente. 

Samuel Dias Andrade/Número:29/1ºF